Os movimentos sociais fazem parte, expressivamente, da história do nosso país e da vida dos brasileiros, desde os movimentos dos trabalhadores da década de 1910. Participando das manifestações populares podemos, principalmente, exigir a efetivação das políticas públicas e reivindicar nossos direitos, assim sendo, por meio dos movimentos sociais podemos demonstrar nossa insatisfação, promover transformações na conjuntura política do nosso bairro, da nossa cidade e quiçá do nosso país, além do mais ao participar dos movimentos populares estamos caminhando rumo à cidadania plena.
De acordo com a mídia internacional o brasileiro é um povo cordial, mas ao contrário do que muitos pensam ser cordial não quer dizer ser franco, sincero e afável, muito pelo contrário, segundo Sérgio Buarque de Holanda, a cordialidade do homem brasileiro é inata, vista pelos estrangeiros, transmitindo-lhes a idéia de submissão, de conformismo e de conluio com as oligarquias.
Conhecendo as raízes da desigualdade em nosso país e levando em conta a idéia do pai de Chico, devemos à colonização portuguesa, ao regime de escravidão e à conseguinte Lei de Terras, a característica cordial dos brasileiros, que paradoxalmente quer dizer que somos um povo pouco revolucionário. Mas esta afirmação é realmente verdadeira?
Esta afirmação não é verdadeira em sua totalidade, uma vez que nós já protagonizamos diversos movimentos sociais importantíssimos, tais como a resistência à escravidão dos negros no Quilombo dos Palmares no século XVII; a oposição ao domínio português com a Inconfidência Mineira em 1789; o estabelecimento da República Rio Grandense na Guerra dos Farrapos de 1845; além da Guerra de Canudos contra os interesses latifundiários na Bahia em 1896. E as reivindicações dos brasileiros não pararam por aí, elas estenderam-se durante todo o século seguinte.
O movimento dos trabalhadores (tanto rurais quanto industriais) é um dos mais antigos do Brasil, e chegou ao ápice em 1910, quando os trabalhadores passaram a fazer greves e participar de lutas encampadas; portanto, as conquistas da atualidade não surgiram por acaso, são produtos das lutas de outros cidadãos que se mobilizaram coletivamente em busca de mudanças. Essas reivindicações começaram a se espalhar pelas cidades com a crescente urbanização e industrialização do país, propiciando mudanças na legislação trabalhista, principalmente após a Nova República. A implantação do salário mínimo, da jornada de trabalho de 8 horas/dia, das férias remuneradas e a criação da previdência social, dentre outros direitos são oriundos das lutas empenhadas por muitos trabalhadores e sindicatos.
Os sindicatos por sua vez, são figuras importantes no cenário das manifestações sociais e tiveram participações muito significativas na década de 1980, a função dos sindicatos é justamente de intermediar as relações entre os trabalhadores e proprietários, quando não há um acordo entre os mesmos, sempre procurando negociar pontos favoráveis aos dois lados.
Atualmente, podemos listar o movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) como uma das mais importantes manifestações sociais brasileiras, segundo os sem terra, uma reforma agrária decente representa a ampliação dos direitos trabalhistas e especialmente, é uma questão de justiça social.
Embora as informações divulgadas pela mídia sobre o MST e seus participantes sejam muito tendenciosas, e diria até preconceituosas, não impedem que os trabalhadores sem terra continuem suas reivindicações por benefícios, pela reforma agrária e pela implantação de ações neste setor. Assim sendo, verificamos que apesar da mídia de massa se colocar contra o MST e criticar este movimento, ela esquece de fornecer maiores esclarecimentos sobre quem são os trabalhadores sem terra e quais são os seus reais objetivos, se atendo em rechaçar e dizer que os manifestantes do MST são um bando desocupados e preguiçosos que ficam pedindo “terra de graça”. Mas equivocados são estes que pensam que os trabalhadores sem terra reivindicam terra de graça, muito pelo contrário, estes somente reivindicam seus direitos quanto cidadãos, aliás, um detalhe que muitos esquecem é justamente aquele que defende a reforma agrária como lei, de acordo com a Constituição Brasileira. Sem falar que esta problemática vem se arrastando durante muitos anos tem sua origem justamente na época criação da chamada Lei de Terras, logo após a libertação dos escravos, assim sendo esta lei tinha o propósito de impedir que os ex-escravos adquirissem terras, uma vez que as mesmas só podiam ser compradas ou herdadas, e pobres os ex-escravos, não tinham dinheiro para comprar tais terras e muito menos, possuíam qualquer herança.
Vale lembrar que as políticas de reforma agrária além de defenderem a distribuição justa da terra devem contemplar uma alternativa à distribuição de renda no país, pois de nada vale a reforma agrária sem uma distribuição de renda decente.
Em resposta a deturpação das informações sobre o movimento dos sem terra por parte da mídia, a única atitude que podemos ter é de lamentar, uma vez que não podemos generalizar as situações, porque também não são todos os manifestantes que têm propósitos correspondentes às reivindicações feitas pelo MST, há ao mesmo tempo, maus elementos dentre os verdadeiros trabalhadores sem terra. Esta é uma observação que serve tanto para nós, cidadãos afim de não fazermos mau juízo do MST, e principalmente para os meios de comunicação para que não continuem divulgando aquilo que eles não têm pleno conhecimento.